domingo, 29 de agosto de 2010

Poesia...



Perdendo a cor


Quando começamos, éramos uma semente forte e guerreira, pronta para desbravar o solo e impôr-se à vida.
Quando amadurecemos, ficamos com o caule bem formado e o primeiro olho de folha se fez brotar quando superamos nossa primeira discussão.
Quando desentendemo-nos, as folhas já eram muitas, mas começaram a murchar por falta de seiva boa para a nutrição.
Quando reconciliamo-nos, foi incrível ver o brotar de uma flor de cor branca, branco de paz e branco de pureza.
Quando caímos, foi triste ver a flor amarela cair também, pétala por pétala, no chão, em total desamparo poético.
Quando tentamos nos reerguer e fracassamos, as folhas caíram também e ficamos somente um caule sem vistosidade e explendor.
Quando nos separamo-nos, o verde decidiu nos abondonar e um tom de marrom pincelou de deserto o nosso corpo e o nosso coração.
Quando olho para nós, penso se vamos desistir e tudo encontrará seu fim. Não resistiremos ao primeiro inverno ou renasceremos na próxima primavera?


Eduardo Henriques

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Poesias...



Bandeira do poeta

Minha bandeira não tem cor de aurora
Ou flâmula soberana e luzente.
A bandeira que eu carrego relampejante
Não vibra, é morta e fria.

A grandeza da minha bandeira
É a soberba inútil do nada.
A riscar o céu de negro,
Ela flameja o sentimento do seu poeta.

Este poeta de mãos trêmulas
Versa o intemperismo do mundo.
A sua cobiça atroz
É o atrofiar das emoções daquele mundo.

A minha bandeira não prediz o futuro,
Ela ostenta o passado agora presente.
Seu leito é um poema de ojeriza.
Eu sou poeta. Sou luto. Sou ojeriza.



Eduardo Henriques

Poesias

Beija-flor

Uma após a outra,
O beija-flor vai a beijar.
Chega, elogia, envolve em dança.
Encanta e beija a flor escolhida.
É gentil e atencioso.
Flerta e enamora.
Ele é solene e elegante,
Mas também humilde e gentil.
Não há flor que não se core por ele,
Ou suspire com os versos de suas asas.
É um mestre sedutor.
Para ti, princesa minha,
Quero ser beija-flor
E seduzir-te com olhares e cantos.
Quero valsar contigo ao luar,
Beijar-te as mãos e ver-te rosar,
Sentir-te tremer,
Ouvir-te envergonhada,
Saber, então, da tua paixão.
Linda flor da minha vida,
Mais que beijar-te enamorado
Prometo ser só teu.
Dedicar-me-ei somente a tua graça
Para te fazer sempre feliz,
Perfeita no centro do meu jardim,
Onde só existe a primavera
E o perfume do teu amor
Onde te sou beija-flor.

Eduardo Henriques

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Poesias



Petit Colombe

Existe qualquer coisa
Que separa poeta e rosa.
Existe um pequeno menino francês
Que se chama Julien Colombe.

Colombe olha para os homens
Com seus ternos escuros nas ruas,
Mas os homens não enxergam Colombe.
E nas ruas Colombe se perde nas encruzilhadas.

Sem se perceber mordeu-se a maçã.
E as últimas esperanças estão nas esquinas
A revirar as lixeiras em busca do amanhã.
Pobre Colombe e suas mãos sujas.
Mesmo que se tente esconder o Sol com as mãos,
Não se pode impedir sua luz de iluminar o mundo.
Por mais que se tapem os olhos com as mãos,
A verdade não se apaga... Não! Não! Não!

Segue petit Colombe a caminhar pelas praças
Sem qualquer folha nas árvores, sem qualquer canto de pássaro.
É chegado, dentro e fora, o cinza opaco do inverno.
Ante a essa inércia, louváveis são as barricadas.

E qualquer coisa persiste em separar
A beleza e a expressão da beleza.
Algo que segrega e sangra o peito.
A rosa perdeu suas pétalas sobre o asfalto.

Mesmo que se perca o brilho da manhã,
Mesmo que se percam os horizontes do amanhã,
Não há como esconder o sangue que escorre pelo chão.
E se perguntarem se o quero esconder, digo que não... Não!...Não!

Eduardo Henriques

Poesias...

Um Par

Nós dois somos como meia de lã e sandália de silicone.
Somos um péssimo par.
Como brigadeiro com molho de tomate.
Realmente, um péssimo par.

Enquanto leio sentada na varanda,
Você lê de trás para frente
E suas estórias são de bonecos com luzes nas mãos.
Minhas personagens são pessoas tentando se encontrar.

Deito sobre seu corpo e falo de nós
Dourada pelo pôr do sol de cada fim de tarde.
Tento nos tornar alguma poesia
Enquanto você ouve seu Iphone.

Entenda que nunca dará certo.
Somos um péssimo par.
Como álcool e direção,
Nós formamos um péssimo par.

Nós não somos de verdade.
Não somos como Darcy e Elizabeth.
Nem tampouco somos como Cathy e Heatcliff.
Nós sequer somos mesmo um par.

Eduardo Henriques

Poesias



Meu Improviso

Era uma bela primavera.
Eu falava para a noite
Do que vivia dentro de nós.

Mas tu, e tu, e somente tu
Foste como um pássaro
E agora eu canto esperando-te.

Não sei se canto ou o que canto
Mas eu improviso, eu te improviso.
Eu canto para ti ter.
Eu canto para não sofrer.
Eu te improviso.
Eu te improviso.

Voltarás e eu te espero
E em silêncio,
Eu te espero sem paz.
Não me sinto em vida.
Eu te improviso para viver.

Agora, eu olho lá para fora,
Para o escuro da noite sem luar.
Esperando por tua volta.

Mas tu, e tu, somente tu
Que foste como um pássaro
Não devolves a minha aurora, estou esperando-te.

Não sei se canto ou o que canto
Mas eu improviso, eu te improviso.
Eu canto para ti ter.
Eu canto para não sofrer.
Eu te improviso.
Eu te improviso.

Eduardo Henriques

Da Espuma do Mar... Uma Afrodite Literária

Boa noite srs.,


Como começar? Eis a mais difícil de todas as tarefas. Ação que necessita de uma projeção daquilo que virá após para que sirva de combustíval para a explosão de hormônios e impulsos nervosos que nos conduzem a um movimento impetuoso e determinado de riscar o papel, de sangrar nosso sangue numa tela em branco. E o rubor das plaquetas será o suficiente? Quantas dúvidas nos irrompem após o primeiro passo dado, após o primeiro risco, a primeira sílaba, o primeiro conjunto "SVO" de nosso parágrafo. Eis, então, a segunda das mais difíceis perguntas que nos atormenta a mente imperfeita e trêmula em sua qualidade desqualificada de descentende do pecado de Adão - pois se Eva era costela de Adão, o pecado não seria dele ao fim das contas? - e glorificada pela imagem e semelhança de Deus: continuar?
O que seria da Humanidade se o segundo passo nunca houvesse sido dado? E se todo chuvisco significasse uma tempestade? Nunca poríamos nossos sonhos no mar? Deixaríamos nossas velas sempre abaixadas? Qual a poética da vida se nela não conseguimos seguir adiante? Seríamos tão imperfeitos e indignos quanto um escrito sem progressão temática, tão mudos quanto uma ópera sem soprano. Camen sem Maria Callas. Então, que venham os segundos passos, os segundos riscos, os segundos erros e os segundos acertos. Quem bom que na Literatura, até mesmo o Sol pode ter um segundo.



Este Blog é nada mais do que um segundo passo, uma segunda tentativa de exprimir em arte, em literatura, na imperfeição de meu ser, na impureza de meu âmago, com as vicitudes de minha natureza, imerso nas limitações mundanas de meus sensos, nos limiares diminutos de minhas impirações; as minhas agruras e alvoradas interioras.
A poesia é a miha recorrente, o meu refúgio, a minha arma. Sem forma, sem meio, sem tempo ou espaço. Apenas sentimento. Sem a necessidade de sentido, de entendimento claro e universal. Com a magia da impessoalidade personalíssima da compreesão. Cada qual pode sentí-la, entendê-la como desejar, como estiver predisposto. A poesia nos permite escrever os versos que lemos em nossa alma com a nossa própria caligrafia. Eis o que é o Olimpo sensorial..."Sentir o que deveras sente".
Desta forma, senhores, pedaços do Pecado como eu, vamos na divindade da Arte, filha de Apolo, pagã por sua gênese, Sacra por sua conversão à pureza nos sentimentos de cada homem, convertermo-nos também. Conclamo-vos a juntarem-se a mim, neste pedaço de nuvem fugidia, de nuvem sem forma e macia, na qual podemos imprimir nosso abecedário, nosso imaginário, nossa sofreguidão e amores,sem o julgo do Cultismo, sem a vigilância do Conceptismo, sem a sombra do disforme...à sombra de uma lágrima.