quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Poema...


Adeus, meu amor


Bonsoir, meu amor, bonsoir.
Agora apenas o silêncio há
Para nos interromper as palavras
Que jamais foram ditas...
Que nunca serão pronunciadas.

As mesmas cortinas, o mesmo quarto.
O mesmo calor de setembro,
Mas não mais você e eu...
Não mais aqueles que o tempo perdeu
Quando o sol conosco adormeceu.

E eu saí a ti procurar pelas esquinas e praças,
Pelas vírgulas e estrofes de minhas músicas,
Mas apenas vi-me tão comigo mesmo
Que suspeitei alguma vez ter-te tido
Mais além de que por um crepuscular devaneio.

Bonsoir, meu amor, bonsoir.
Dormes em meus braços a sonhar
Com cada gota do perfume que nos embalsamou,
Com cada beijo que minha boca nunca te negou,
Com uma eternidade para ti que em mim se acabou.

Poema...


Enfermidade de você

Tu me corres como veneno
Por minhas veias a queimar
Loucamente todo o meu corpo
E entontecer o meu pensar.

Acordo e vejo o dia violeta
A contrastar com violência
As noites alaranjadas
Que me veem com demência.

A água que bebo é amarga,
O pão que como é salgado.
Em mente tudo o que tenho
São imagens soltas como fumaça.

Meus Deus, estou doente.
Quero gritar que te sou doente
E que meu calvário só vai terminar
Quando a minha vida em ti se apagar.

Enquanto dormes, estou doente.
Se andas, se cais, estou doente.
E como viver se minha vida tu
Lançaste às tormentas de um mar azul?

Por mais que fujas, estou doente
E aqui terás por dó de regressar
Pois um coração sangra teu nome
E meu amor a ti grita que estou doente!

Poema...


Cicatriz

Estás presente em minhas mãos
Como que um castigo à minha memória
Trazendo-me lembranças com gosto de açúcar
Que azedam meu coração com nossa história
Cujo fim foi sem amor e sem razão.

És cicatrizes de dentes noturnos
A tatuar teu desejo em meu tato.
És queimaduras de cigarro
A marcar com fogo os meus espaços
Que foram a tua casa e o teu conforto.

Ainda sinto os teus dentes em mim
Como ainda sinto saudades de ti,
Mas jamais serei lar outra vez
Para o teu corpo que sobre mim fez
Pesar o meu silêncio para a tua voz.

Porquanto eu viver, ter-te-ei em mim
A encher-me com recordações-azedumes.
Como uma zebra tem as suas listras,
Ter-te-ei nas minhas cicatrizes
Sempre ardentes, sempre vivas.

Poema...


Sutura

Todos nós sabemos a hora de partir.
O momento nos sopra aos ouvidos
Que é tempo de enxugar os olhos,
Que não há mais porque insistir.

Algumas vezes ocorre-nos
A falsa impressão dos pulsos a sangrar,
Mas na realidade quem sangra está a pulsar
Os engasgos dos sonhos que não viveremos.

Quando te vejo assim tão arfante
Quero meus pulmões em teu peito,
Quero meu ar oxigenando o teu sangue.
São nesses momentos em que eu existo.

E toda vez que o teu corpo doer e chorar,
Que os teus pés perderem o chão,
Que a tua boca tremer e sangrar,
Eu estarei ao teu lado a suturar o teu coração.