quarta-feira, 11 de julho de 2012

Poema...

À Lisboa


És tu, de tantos azulejos e beiras,
Nos telhados e pedras nas calçadas
Meu caminho, minha rota mais certa,
Minha certeza de estar em rota consagrada.

Minha terrinha do coração,
Pedaço de chão que levo na mão
E nos olhos do horizonte a visão
Da casa que habita minha lembrança de tudo então.

És tu, de tantas cores em varais e sacadas
Meu estandarte de brasões e armas bravias,
Seja no Rossio, no Commércio ou nas escadarias,
Meu peito te canta saudosas cantigas adoradas.

Senhora mais querida de saiote em camadas,
Nas cirandas de pé batido em meio às castanholas,
Vejo-te florida em cores de vida e amanhecer.
Ó casa minha, comigo vais pr'onde tiver que ser.

Édouard d'Henri-Araújo.

sábado, 7 de julho de 2012

Poema...

Canto ao Mar

Não vês este azul a avançar
Sobre as nuvens e todo o ar?
Enxergas quantos foram lá
E quantos nunca hão de voltar?

Fechas teus olhos e apela ao sentido
Que o vento sobre a pele te desperta.
Vais como um jovem passarinho agora
Voar às cegas na rosa do destino.

Sabes tu o fado do velho moinho cantar
Onde víamos o dia se espreguiçar?
Eis então o tempo de um fado ao mar
Que banha tão sozinho o céu e o que mais há.

Não faz muito sentido sentar e calar
Quando há tanta beleza para calmo olhar.
Vamos ficar e acariciar a visão do mar.
Se vais ficar entristecido, lanças ao mar teu chorar.

Vejas como ele é imenso e divino, e faz sonhar
Ao homem e ao menino que não sabem nele nadar.
Mas te ensina o caminho para barcos lançar.
Este, caro amigo, é o mar que vais ganhar.

Eduardo Henriques
Coisas tão Pequenas

Coisas tão pequenas que deixaste sobre a cama
São como teu corpo ainda quente em lençóis,
São como desejos ardentes em firmes anzóis.
Os anzóis com que costumavas pescar minha alma.

Dentro de mim ainda há o teu lugar.
E sinto que ao invés d'um grande vazio
Existe um oceano de saudade a jorrar
Sal e cicatrizes no meu olhar.

Pr'onde vais se não vens mais
Acender o lampião do sol que faz brilhar
Cada manhã dentro de meus olhos apraz
No deleite d'em mim escorrer teu amar?

Cantos e lembranças que agora me falam
De coisas tão pequenas que não importam mais.
Lugares que eram teus e hoje são imagem fugaz
Do meu amor qu'inda vive em lágrimas que jamais estancam.

Eduardo Henriques

Poema

Escudo à solidão 

Haja o que houver, por favor,
 Não deixes cair ao mar 
O beijo que em tua mão fiz guardar. 
Não me soltes, por favor. 

Caminhar, esperar e sentir 
Tuas mãos através dos ventos 
A tocar, a redescobrir 
Cada pedaço dos meus contornos. 

Estou à janela e, por favor, 
Não me deixes a esperar
 Por mais de um cheio luar 
Que me envolvas em calor. 

Haja o que houver, por favor, 
Não me afastes de dentro de ti. 
Aqueças, apertes junto a si 
E uses como escudo à solidão, meu amor. 

Ao céu, ao mar, ao sol e ao luar 
Declamei, e bem cantei, o que sei de ti. 
Desenhar ou versejar, de tudo eu fiz
 Para a Deus, suplicar pelos teus olhos reavistar.

 Haja o que houver, estarei aqui. 
Tenhas pressas em voltar, por favor.
 Tenhas sede de tocar outra vez o meu amor. 
Haja o que houver, espero por ti. 

Eduardo Henriques

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Poema...

Gota de Sangue

Do céu há uma gota que cai
Como dos olhos uma saudade derrama,
Como do peito flameja uma chama
Por meu nome que de tua boca não mais sai.

De minhas mãos escorrem tremores
D'ansiedade por te tocar a pele fresca.
Frescor que ninava meus amores
Nas noites em que me foste morada.

Da cama não saem mais as pétalas
Das rosas que me trazias tão rubras.
O quarto hoje é uma sala de lamúrias
Donde endeixas lançam meu coração às lagrimas.

Dizer, outra vez, tantos versos de perdão
Não há de ser remédio ao coração.
Esperarei que sangre até morrer de sede
O peito que teu nome reclama, e pede.

Eduardo Henriques