segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Poema...


Em meu quarto de criança

O Sol me acorda sem considerar
A insônia que tenho todas as noites
A esperar que a Terra decida girar
E Pandora reanime os meus tremores/temores (?)

Eu gosto de acreditar
Que o mundo gira
Em um ritmo bem devagar.
Não é facil achar a forma certa,
Mas isso não é uma corrida.
Respire! É uma boa caminhada.

O Castelo de legos coloridos
Não é mais tão grande.
E o dragão inimigo, com grandes olhos,
Não tem escamas - ou cara de serpente.

Meus sonhos são como balões
Pontilhando o céu azul e branco.
Conjescturá-los foi-me as melhores abstrações.
É difícil ser cisne e não pato.
Faltou o "X" no mapa do tesouro.
É bem diferente do que o videogame tinha mostrado.

Não se pode caminhar sem olhar para a frente.
É muita responsabilidade fazer amigos,
Cativar-lhes o afeto e, por fim, não regar a semente.
É preciso prever os tropeços.

Eduardo Henriques

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Versos vãos...


Efêmera rosa da minha apaixonada mediocridade

Na tevê são milhares de canais
Onde o que se constrói logo se desfaz.
E eu só busco um caminho para seguir.
Por mais que se busque saber quem se é
Só podemos andar sobre o nosso próprio pé
E isso já significa algo importante...
Ou a importância é apenas um cartaz de filme?

Por mais que se queira fugir
O abismo está tão grande.
A lagoa pode à noite refletir
O luar prateado de um beijo adolescente,
Mas tudo será apenas imaginação.
Não há mais a vovó para segurar a nossa mão [...]
E os ogros dominaram os contos de fadas.

Nas ruas todos usam óculos escuros
E nas mãos carregam calulares luminosos .
As bibliotecas conquistaram o silêncio desejado
Que as mentes não alcançam sem que se esteja dopado.
As provas estão chegando ao fim
E eu sequer as comecei.
Talvez seja melhor assim...

Por mais que se queira fugir
É impossível fugir de si.
Os balões coloridos sobem no ar,
Mas logo eles caem colorindo a beira do mar
A sensação de não ser ave ou peixe deve ser ruim.
Desligando-se a tevê, quem sobra para se interagir?
[...]
______//Viver é a trilha sonora de um filme mudo.


Eduardo Henriques

sábado, 20 de novembro de 2010

Frase



Chorar, nem que seja de dor, mas que seja por amor. Antes de tudo, por alguém chorar

Poema

Nenhuma Saudade

Eu penso em mim
E em quanto eu perdi
Doando pedaços meus para você.
Quando um sentimento amadurece,
Mas o pensamento se infantiliza
Imaginando aquelas borboletas na barriga,
Vamos ao paraíso sem a mínima idéia
De que há um enorme vale antes da entrada...


Eduardo Henriques

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Uma tentativa de Conto...


Filhós e chá gelado

Pôs o telefone de volta na base. O clique e a luzinha vermelha acusaram, cada qual em sua função, o acolhimento do aparelho que, segundos antes, possibilitou-o saber a notícia serpenteante e ferina. Engolida a traumática mensagem, que desceu pela garganta como cacos de vidro, a mala logo foi jogada sobre a cama. Roupas aleatórias são postas dentro enquanto, novamente por meio do telefone, um bilhete era comprado.

A estação estava repleta de pessoas e suas bagagens. Cada passo apressado para o portão seis, do outro lado daquela construção inspirada na Gare Charles de Gaulle era penoso. As famílias iam ou voltavam das férias, os casais enamorados, os homens de casaca... Tantos sorrisos. Duas lágrimas. Enfim, o portão. Vencido o embarque, apenas uma corrida pelo corredor estreito povoado com roupas sem corpos e sem faces precedeu o ríspido encontro com a poltrona. Olhos na janela. Mil e uma lembranças de um tempo quase morto que agora revive. Uma mão macia, os filhós com chá gelado, as estórias para crianças levadas, o sorriso no altar, o abraço quente quando o “para sempre” chegou ao fim. As imagens se sucediam. Foi assim por toda a madrugada.

A mão da mulher de fortes rugas sobre o ombro trouxe de volta à luz do dia olhos que viram tanta escuridão quando o passado acabou e não havia um presente. A antiga estação de ferro inglês com suas paredes amarelas foi esquecida pelo tempo. Depois, já no assento de um Ford, veio a certeza de que toda a cidade permanecia como desde sempre. Os dedos enrijecidos maceravam a correia da mala ao longo dos vintes minutos no automóvel e provocaram um dano irreparável naquele artigo de couro italiano... A casa! E os reais. Mais duas lágrimas.

O hercúleo esforço para manter a razão e a emoção em proporção equilibrada necessitou um cumprimento mudo e “en passant” para os parentes e conhecidos distribuídos na sala arcaica. A mesa da cozinha trouxe à mente o cheiro forte daquele café grosso, quase mastigável, tomado antes de o sol sair. Quando viu a porta do quarto tão almejado, aumentou o ritmo do passo. Padre António vinha saindo. Trazia um crucifixo em uma das mãos e na outra um chapéu de palha. Nos lábios: Kyrie Eleison. Uma benção silenciosa através de um aceno. A porta. E ela.

Da porta para o pé da cama em um só fôlego. Um abraço apertado nas carnes moles que a lembrança conservava rijas. Vovó Ia. A avó negra, filha da seca que chegou a esta casa para criar uma moça fina e acabara por criar esta, seus filhos e, por fim, seus netos. Não foi mão dos seus para ser maternal com os filhos de outras. E quanto amor!

- Vovó Ia! Que susto me deste no coração...

- Ô meu filho, meu filinho, não foi dessa vez. O peito ainda bate.

- Desculpe-me a demora. Não foi por falta de saudade.

- Saudade é bicho bom! É o que me fez esperar para te rever aqui.

- E eu vou me demorar, viu?! Tem muito passado nesta casa...

Com um novo beijo, dessa vez nas mãos, afagaram-se. Após isso, desbravaram o passado, conjecturaram o futuro na plena construção de um presente. Presente este que poderia não estar sendo possível de se escrever. Foi por pouco.

- Filhinho, o que você acha de uns filhós?

- A vó, só se tiver um chá gelado!

- É pra já!


Eduardo Henriques

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Versos...

I

Você me fez sentir
A adrenalina que eu queria.
E toda a minha pele se eriçou
Na primeira vez que você me tocou.
Foi mágica essa nossa cena.

Meu coração simplesmente para
Cada vez que você olha para mim.
Eu me sinto na adolescência
E meu estômago parece girar só de lembrar
Como é te ter sobre mim.

Eu não quero que o fogo apague.
Vamos deixar tudo queimar.
Vamos ser a lenha que o fogo vem queimar.
Segure na minha mão e siga
As linhas do meu corpo em chamas.

Eu estou à porta esperando.
Sei que você vai tocar a campanhia
Com as roupas ensopadas pela chuva forte
E será o meu calor que irá te esquentar.
O importante é queimar... É queimar.


II


É difícil para mim
Enxergar você partir
Depois de tudo o que fiz
Para te ter aqui.

Mas se o sangue que escorre
Ralo abaixo em vermelhidão
Não for o suficiente para você,
Que bom que não irei acordar.


III


Eu deixo o telefone livre,
O msn online e o facebook.
Cada segundo a esperar um sinal
De que você me procurou.

Será que você vai me ligar?
Eu escolhi um ringtone especial
Só para saber que é você.
Perco as horas esperando você perceber.

Seu adeus me deixou sem ação.
Assim como me roubou as palavras.
Eu estou sem palavras ainda.
Você vai me trazer de volta a voz?

E por mais que haja frases em mim
Eu continuo completamente sem voz.
Manda um SMS, um simples e-mail.
Não me deixa assim, so speechless.


Eduardo Henriques de Araújo