terça-feira, 12 de julho de 2011

Poema...



Madrugada

Como norte e sul da vida
Duas fazes, dois olhares
De um mesmo sorriso.
Somos nós dois a girar em nossa cama
Como satélites um do outro.
E minha órbita é a tua vontade.
Que seja a nossa noite
Uma eterna madrugada
E que só desperte o cansaço
Quando a noite amanhecer
E for impossível o nosso amor
Tão puro e sujo como o nascimento
De toda e qualquer esperança.


Eduardo Henriques

Poema...


Caminhos



Era para ser apenas um toque,
Mas foi como um aflorar de mim mesmo
Através dos teus poros.
Percebi que sou
Apenas quando sou-te.
Adentro minhas profundezas
Quando me descobres,
Pouco a pouco.
E no calar dos teus murmúrios,
Escuto no meu peito
O teu coração bater.
Somos pedaços de um mesmo,
Frases de igual poema.
E enquanto segues pelos meus caminhos
Me enrosco nos teus braços e me encontro
No teu corpo.


Eduardo Henriques

Poema...



Encontro

E foi como enfim ser.
Tudo se completou naquele instante
E nada mais precisava, pois nada faltava.
Era o vento em nossas roupas,
Era o verde a nos emoldurar,
Era a paz que nos unia,
Era nós dois numa mesma estrada.


Eduardo Henriques

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Poema...


Continente


E nos teus cabelos quero deixar
O sabor do meu pegajoso amor
Para que todo canino que se aproxime
Sinta o meu cheiro ácido na tua beleza
E tenha plena consciência
Que és continente mapeado
Pelas pontas dos meus dedos,
Pela carne dos meus lábios.


Eduardo Henriques

Poema...



Um dia...


Quem sabe um dia há de ser
O meu dia com você.
Quem sabe um dia há de haver
Mais que sonho p’ra viver.
Quem sabe um dia há de ter
Um pedaço de mim em você.


Eduardo Henriques

Poema...



Um pouco antes

Queria ter te conhecido um pouco antes.
Andes de eu estar assim tão diferente,
Tão indiferente as coisas que tu trazes
Com esse teu carinho deveras fulgurante.

Queria ter podido te abraçar como eu não sei mais
Para que assim conseguisse retribuir esse calor
Que tem me aquecido o teu sorriso a cada dia mais
E menos frívolo fosse o meu olhar em torpor.

Queria que tu tivesses conhecido o meu eu
Quando ele sabia cantar as cores do vento
E que pudesse ao menos uma vez ser teu
O meu motivo de qualquer contentamento.

Queria ter te recebido em minha vida
Como as flores saúdam a primavera.
Se ainda soubesse amar o meu coração
Receber-te-ia em mim com toda satisfação.

Queria ter podido te mostrar meu mundo
Antes de a babel ruir e tudo seu vazio encontrar.
Gostaria que houvesse algum resquício perdido.
Pois teria eu ainda alguma paixão para te acomodar.

Queria que tu tivesses visto como eu sorria
Como bem versava o som do amanhecer.
De todo meu amor serias razão de afeto e prazer.
É triste o meu chorar porque enfim feliz eu te faria.


Eduardo Henriques

Poema...



Between


É como se a cada vez que eu decido m’apaixonar
O universo se alargasse para ainda mais distanciar
As suas extremidades infinitas e assim prolongar
O trajeto da minha caminhada pelo céu, pelo mar.

Enquanto me travisto de Hércules para o meu alguém alcançar,
Avisto de minha margem outras naus a se aproximar.
No mesmo banco porque velejo incansável para aportar,
Sei que alguém vai sentar junto... E ao ouvido meus dizeres vai falar.

Assim, dentro dos meus pulmões eu busco o ar
Para a mim mesmo não vir a desesperado afogar
Em meu coração de caravela a doente naufragar
Nas turvas ondas da viagem nesse imenso desejar.

Dias e dias com o céu de Deus a me vigiar
Mais e mais convalesço desta dor a me enterrar
Com as quimeras perdidas, com as lágrimas a rolar.
Então que tal, peito meu, desistir de amar?

Por mais que a dor venha à beleza simbolizar
Esta dor que deveras finda vem ao belo mortificar
Nas palmas de minhas mãos úmidas de enxugar
O sangue que esse sentimento acaba por regurgitar.

Incrustado ao centro do meu destino ha de estar
A mancha da solidão vaga a si amplificar
Querendo de mim vir com violência roubar
O meu hobbie tão sublime e puro que é amar.

Mas escutas-me coração porque hás de murchar
Ainda tantas vezes mais antes de por fim encontrar
Alguém para quem a mim completo vais entregar:
O melhor mesmo é parar com essa mania de sonhar.

Entre duas margens existe sempre um riacho a serpentear
Em paralelo os caminhos que podem ou não se cruzar
Ao fim da caminhada, à beira do imenso azul do mar,
Mas antes é preciso valente ganhar o direito de nadar.

Há sempre um cálice quebrado de vinho a macular
Meus versos tão sinceros que puros anseiam se entregar
Ao extremo oposto da minha praia que parece jamais chegar.
Talvez seja o meio de o destino me dizer que é hora de parar.

Contudo quando me vêem essa desesperança apunhalar
Corro para o vento soprar, vôo no céu para ao sol raiar
Com os versos de por causa de você a docemente cantarolar
Querendo com todo ardor jamais do amor me desapaixonar.

E mesmo que o universo decida jamais acabar,
Um dia, de alguma forma, à outra margem hei de chegar
E em algum par de braços minha foz há de estar
Com um sorriso de farol a me esperar para enfim me derramar.


Eduardo Henriques

sábado, 9 de julho de 2011

Poema...


Lamparina

É chegada a hora
em que serei aurora.
A todos qu'amei,
A ti tant'amei,
Mais do que a mim, eu sei,
Pois a me amar nunca comecei,
Comigo hei de levar
Como sorriso a florescer meus olhos,
Como lágrima a secar meus sonhos.
Chora o sol enfim a se apagar.


Eduardo Henriques

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Poema...


Versos Vulgares

Meu coração está fudido
Dilacerado, partido e sangrando.
Embriagado por ti eu sigo cambaleando
Na angústia de ser por teus braços socorrido.

A tua vodca me corre nas veias
A destilar meu ser em tuas vontades.
Mais e mais me enrolo nas tuas teias
E aos teus caprichos sucumbem minhas verdades.

Quero me drogar com o teu cheiro
E injetar no meu sangue o teu gozo.
Hei de cortar meu pulso com a navalha do desejo
Quando tiver-te em overdose no meu corpo.

Meu sangue vai encher a tua piscina
Para nadares nos fluidos da minha lascívia.
É de heroína o meu coração que ti dei.
Agora espero a hora de ser-te vício já que és minha lei.


Eduardo Henriques