segunda-feira, 11 de julho de 2011

Poema...



Between


É como se a cada vez que eu decido m’apaixonar
O universo se alargasse para ainda mais distanciar
As suas extremidades infinitas e assim prolongar
O trajeto da minha caminhada pelo céu, pelo mar.

Enquanto me travisto de Hércules para o meu alguém alcançar,
Avisto de minha margem outras naus a se aproximar.
No mesmo banco porque velejo incansável para aportar,
Sei que alguém vai sentar junto... E ao ouvido meus dizeres vai falar.

Assim, dentro dos meus pulmões eu busco o ar
Para a mim mesmo não vir a desesperado afogar
Em meu coração de caravela a doente naufragar
Nas turvas ondas da viagem nesse imenso desejar.

Dias e dias com o céu de Deus a me vigiar
Mais e mais convalesço desta dor a me enterrar
Com as quimeras perdidas, com as lágrimas a rolar.
Então que tal, peito meu, desistir de amar?

Por mais que a dor venha à beleza simbolizar
Esta dor que deveras finda vem ao belo mortificar
Nas palmas de minhas mãos úmidas de enxugar
O sangue que esse sentimento acaba por regurgitar.

Incrustado ao centro do meu destino ha de estar
A mancha da solidão vaga a si amplificar
Querendo de mim vir com violência roubar
O meu hobbie tão sublime e puro que é amar.

Mas escutas-me coração porque hás de murchar
Ainda tantas vezes mais antes de por fim encontrar
Alguém para quem a mim completo vais entregar:
O melhor mesmo é parar com essa mania de sonhar.

Entre duas margens existe sempre um riacho a serpentear
Em paralelo os caminhos que podem ou não se cruzar
Ao fim da caminhada, à beira do imenso azul do mar,
Mas antes é preciso valente ganhar o direito de nadar.

Há sempre um cálice quebrado de vinho a macular
Meus versos tão sinceros que puros anseiam se entregar
Ao extremo oposto da minha praia que parece jamais chegar.
Talvez seja o meio de o destino me dizer que é hora de parar.

Contudo quando me vêem essa desesperança apunhalar
Corro para o vento soprar, vôo no céu para ao sol raiar
Com os versos de por causa de você a docemente cantarolar
Querendo com todo ardor jamais do amor me desapaixonar.

E mesmo que o universo decida jamais acabar,
Um dia, de alguma forma, à outra margem hei de chegar
E em algum par de braços minha foz há de estar
Com um sorriso de farol a me esperar para enfim me derramar.


Eduardo Henriques

sábado, 9 de julho de 2011

Poema...


Lamparina

É chegada a hora
em que serei aurora.
A todos qu'amei,
A ti tant'amei,
Mais do que a mim, eu sei,
Pois a me amar nunca comecei,
Comigo hei de levar
Como sorriso a florescer meus olhos,
Como lágrima a secar meus sonhos.
Chora o sol enfim a se apagar.


Eduardo Henriques

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Poema...


Versos Vulgares

Meu coração está fudido
Dilacerado, partido e sangrando.
Embriagado por ti eu sigo cambaleando
Na angústia de ser por teus braços socorrido.

A tua vodca me corre nas veias
A destilar meu ser em tuas vontades.
Mais e mais me enrolo nas tuas teias
E aos teus caprichos sucumbem minhas verdades.

Quero me drogar com o teu cheiro
E injetar no meu sangue o teu gozo.
Hei de cortar meu pulso com a navalha do desejo
Quando tiver-te em overdose no meu corpo.

Meu sangue vai encher a tua piscina
Para nadares nos fluidos da minha lascívia.
É de heroína o meu coração que ti dei.
Agora espero a hora de ser-te vício já que és minha lei.


Eduardo Henriques

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Poemas...


Eu, Muralhas


Nada é como era antes.
Nada é como nunca foi,
Nada é como eu busquei que fosse.
Nada é como deveria ser.

Tiro todas as roupas do armário.
Espalho minhas coisas sobre a cama.
O que é tudo isso?
Quem é esse que veste esses cortes ousados?

Nada ficou no lugar
Depois de passado o furacão da incompreensão
Que m’abateu sobre mim mesmo,
Sobre a vida que sem oferta ou cortesia me foi dada.

As certezas são construídas sobre cartas de baralho,
Mas as dúvidas são grandes paredões de pedra.
São imensas e sólidas muralhas.
São pedras e concreto que nos barram, nos sufocam.


Eduardo Henriques

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Poema de saudade...


Sabor d'Acerola

A qu'aurora qu'é esta
Desbravadora do crepúsculo
Do anoitecer que se presta
A com um pulo m'esmorecer?

É o nascer e o morrer
Do dia na noite branca
Em branda endeixa fria
A m'acordar o luar que me dormia.

E acorda o sabor d'acerola rubra,
o cheiro da terra e da cor do tomate
De quintal naquele pedaço d'interior
Na capital qu'o progresso apagou.

Vasta rua arrancou as antigas rosas
E deixou crua a casa, calou as cantigas,
Embassou as reminiscências de minh'aurora
De semente em chão que brotar irá: mais não!


Eduardo Henriques

quinta-feira, 21 de abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

Versos impuros...


A Morte do Amante na vida no Amado


Sabe quando vc gosta de alguém,
Mas só percebe quando esse alguém
Encontra um outro alguém para amar?
E você acaba por gostar
Desse outro alguém que chegou
Somente por ele fazer tão feliz o seu alguém?
E você acaba por não querer morrer quando o seu alguém
Vem te falar de como aquele outro alguém o tocou,
Aquele que não é você, e de como sorri
Quando acorda lembrando-se desse toque com efusão?
Surge a vontade de livrar aquilo que implora por sair,
Mas não seria justo com o alguém de nosso coração.
Pois amar é a dor mais linda do mundo
Mas jamais deixará de ser uma excruciante dor
Apenas por inegavelmente também ser o amor
A causa mortis mais sublime de todo coração moribundo!



por Eduardo Henriques