terça-feira, 26 de março de 2013

Poema


Embrulho

Mesmo sabendo que neste momento
Você me pensa e sorri - um sorriso lento,
Mesmo sabendo que você me inventa
E mesmo tenta me reproduzir – na lembrança,
Eu calado me sento – ao relento, a cair
No envenenamento da saudade – cadê você aqui?

Várias vezes eu já reli o seu bilhete,
Já abracei o ramalhete, já busquei o canivete.
Mas meus cortes encontram doce sutura
Na amargura da lembrança de que doença tem cura
E tu és a medicina das minhas ciências,
A bruxaria de minhas pagãs influências.

O meu Credo tem as profecias do teu templo.
Meu Rosário tem os mistérios do teu sorriso.
A minha saudade anda muito solitária,
Tem apenas a tua companhia perdulária
A gastar exaustivamente minhas forças, meu ser
Que ressente seus erros, que implora te reter.

Minhas emoções estão bêbadas de loucura e querosene.
Minhas mãos estão trêmulas de encesto e meu peito é sirene.
Incendiado, apodrecido em lágrimas que vêm me destruir,
Eu, neste momento, sei que você sorri.
Eu choro, você ri. Você lá, eu aqui. Volta?
Me escreve um poema, um conto, um palavrão: me xinga.

Mesmo sabendo que você me guarda em si,
Neste momento eu feneço e você ri.
Mesmo sabendo que resisto no cheiro do teu lençol,
Enquanto você canta, eu me calo, eu me escondo do sol
Por que é quando o sol nasce que o teu abraço não é mais o meu eclipse.
Por que você me desembrulha do amor toda vez que amanhece.


Eduardo Henriques (27.03.13)

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