BetweenÉ como se a cada vez que eu decido m’apaixonar
O universo se alargasse para ainda mais distanciar
As suas extremidades infinitas e assim prolongar
O trajeto da minha caminhada pelo céu, pelo mar.
Enquanto me travisto de Hércules para o meu alguém alcançar,
Avisto de minha margem outras naus a se aproximar.
No mesmo banco porque velejo incansável para aportar,
Sei que alguém vai sentar junto... E ao ouvido meus dizeres vai falar.
Assim, dentro dos meus pulmões eu busco o ar
Para a mim mesmo não vir a desesperado afogar
Em meu coração de caravela a doente naufragar
Nas turvas ondas da viagem nesse imenso desejar.
Dias e dias com o céu de Deus a me vigiar
Mais e mais convalesço desta dor a me enterrar
Com as quimeras perdidas, com as lágrimas a rolar.
Então que tal, peito meu, desistir de amar?
Por mais que a dor venha à beleza simbolizar
Esta dor que deveras finda vem ao belo mortificar
Nas palmas de minhas mãos úmidas de enxugar
O sangue que esse sentimento acaba por regurgitar.
Incrustado ao centro do meu destino ha de estar
A mancha da solidão vaga a si amplificar
Querendo de mim vir com violência roubar
O meu
hobbie tão sublime e puro que é amar.
Mas escutas-me coração porque hás de murchar
Ainda tantas vezes mais antes de por fim encontrar
Alguém para quem a mim completo vais entregar:
O melhor mesmo é parar com essa mania de sonhar.
Entre duas margens existe sempre um riacho a serpentear
Em paralelo os caminhos que podem ou não se cruzar
Ao fim da caminhada, à beira do imenso azul do mar,
Mas antes é preciso valente ganhar o direito de nadar.
Há sempre um cálice quebrado de vinho a macular
Meus versos tão sinceros que puros anseiam se entregar
Ao extremo oposto da minha praia que parece jamais chegar.
Talvez seja o meio de o destino me dizer que é hora de parar.
Contudo quando me vêem essa desesperança apunhalar
Corro para o vento soprar, vôo no céu para ao sol raiar
Com os versos de por causa de você a docemente cantarolar
Querendo com todo ardor jamais do amor me desapaixonar.
E mesmo que o universo decida jamais acabar,
Um dia, de alguma forma, à outra margem hei de chegar
E em algum par de braços minha foz há de estar
Com um sorriso de farol a me esperar para enfim me derramar.
Eduardo Henriques